Centésimo décimo oitavo dia - infiltração

O picheleiro voltou de manhã para acabar o serviço. A bomba de calor ficou presa à parede, igual para os lavatórios. Falei-lhe do episódio do tubo de gás, e do meu medo de igual azares para os tubos da água e da luz. Tentou tranquilizar-me apontando para o contador: se a água está a correr vê-se a bolinha a girar. Olhei com algum cuidado. Nada parecia mexer-se.

Durante o dia continuei a trabalhar na sala. O processo é muito lento e cansativo, e estou sempre a sentar-me e a levantar-me, seja para mudar de caixa seja para ir buscar mais barro. Com o barro húmido é mais fácil um bom acabamento, se bem que o espalhar do barro na caixa, antes de usar a palustra, é mais complicado.

começando o barro

Ao fim da tarde surgiu a notícia previsível. Duas caixas de saibro estavam molhadas, sinal de fuga de água. Ainda pensei teria sido um problema semelhante ao do gás mas logo concluí que a água vinha da ligação ao autoclismo, que infiltrou água na parede, e dá para o chão. Cortei a água, telefonei ao picheleiro e fiquei a rezar para que seja só isso.

*!?

Ao ver os abelharucos pelo ar a tia Alcina chamou-os pelo nome verdadeiro: pitas-barranqueiras. Diz que quando se vêm no ar, lá no alto, que se sabe que aí vem vento.

Centésimo décimo sétimo dia - Púlpado

Dia agitado. O picheleiro levou o dia a montar sanitários. Volta amanhã para acabar. Eu passei a manhã às voltas entre Freixo e Moncorvo. Os homens da Câmara ligaram o ramal da água e o contador pouco depois do almoço. A casa já tem água, mas não tive coragem de a ligar. Amanhã testa-se.


sanitários

Deixei de ontem para hoje alguns retângulos com a primeira camada de barro a secar. Crivei algum barro e comecei a segunda camada, tendo o cuidado de molhar o barro que já estava colocado antes, que de ontem para hoje secou demais. A técnica, que consiste em aplicar o barro bem húmido e afagá-lo com uma palustra é demorado e intrincado. Neste momento sinto que não vou ter tempo de acabar o chão a tempo e horas sozinho, mas logo se vê.

começando o barro

Na semana passada vi o Amílcar a ler a Bola. Então tio Amílcar, não sabia que gostava de futebol. Olhe que é coisa a que não ligo nadinha. O Amílcar lia a Bola porque não tinha mais nada para ler. O genro, esse sim leitor assíduo, fazia questão de comprar o jornal todos os dias, e eram os jornais comprados durante a estadia do genro que o Amílcar ia lendo. Nem pensei duas vezes. Os jornais que vou lendo ou ficam no metro ou vão parar à reciclagem. Passei a deixá-los ao Amílcar, e dá gosto vê-lo a ele e à Clementina, de óculos postos, a virar cada página com tempo e atenção.

Passadas as sete, deixei o trabalho para trás e fui dar a habitual volta ao Púlpado com a Fidalga e o seu bravo escudeiro, o Trovão. Levei a máquina, antecipando os contrastes que o pôr do sol traria. Comi tantas amoras que nem quis jantar.

a caminho do Púlpado

O vento bule na copa dos pinheiros. Já se sente o frio.

Centésimo décimo sexto dia - barro

Como na semana passada, saí do Porto pelas nove. Não havendo gente na obra e mantendo-se o cansaço, não há pressa de voltar.


Pus-me na obra pouco depois das três. Depois de um rápido telefonema inquiridor, voltei à carga no barro. O quadradinho que deixei feito sábado passado soava a oco. O erro foi não ter molhado o saibro antes de aplicar o barro. Comecei no canto da sala, junto à salamandra. De início usei a misturadora emprestada para juntar o barro com a água num balde, mas logo a mandei às urtigas e voltei à fiel enxada, que combinada com um carrinho fazem de qualquer sonso um mestre das argamassas.

começando o barro

O segredo está em garantir a ligação entre as várias camadas. Deixar lanhos, que serão ocupados pela camada seguinte. E garantir a humidade. 'A água é o prego do cimento', já dizia o outro.

começando o barro

Demorei a arrancar mas agora corre tudo asinha. Deixei alguns retângulos com a primeira camada de barro para amanhã experimentar a camada final. Crivei um pouco e funciona, as areias maiores e a palha ficam pelo caminho.

embarro emcrivado

embarro emcrivado

Dois abelharucos namoram por cima da casa, enchendo o ar de trinados impossíveis.

Centésimo décimo quinto dia - Zirinha

O senhor Serafim, abençoado, tirou o sábado para continuar o azulejo, que já não me assusta tanto como ontem. O trabalho ficou terminado.

azulejando

Juntei nova equipa para o saibro, constituída pelo núcleo central do PAVC, por uma competentíssima misturadora de saibro e por uma octogenária chamada Alzira cuja função na equipa passava por dormir, e por insultar todo o mundo enquanto acordada. Dona Zirinha.

Durante o dia despachámos o saibro na cozinha, em bom ritmo, sem lesões. Ao fim da tarde, antes de sair, testámos o barro, no quadradinho mais pequeno que encontrámos. Chegar à consistência certa não parece tarefa fácil, usando um balde e uma misturadora elétrica (e sabendo que faltam 45,9 metros quadrados para encher), e aplicar a primeira camada tem ainda de ser aprimorada. Talvez com a talocha.

Tivemos uma visita inesperada: um sapo, certamente a refugiar-se na humidade recente do saibro. Apareceu já dentro da caixa, um sortudo que soube mexer-se a tempo de sobreviver.

safaste-te de boa

Centésimo décimo quarto dia - pontos


Azulejos trocados. Chuva que passa e não cai. Fim de tarde no hospital. Concerto no Côa. Muita coisa? Passo a explicar.

Depois dos meus pedidos lacrimejantes, o senhor do pladur lá mandou dois funcionários diligentes para dar conta dos azulejos das casas de banho. Chegaram tão cedo que me apanharam ainda na cama. Sete e quarenta, cos diabos. O plano para o dia consistia em fechar com azulejos as paredes que levavam sanita, lavatório ou chuveiro, para na próxima semana entrar o picheleiro. Os azulejos já traziam o tamanho certo; quanto à cor, ... A cor dos azulejos da casa de banho de baixo tinha pouco ou nada que ver com a cor da madeira já aplicada (lição do dia - se queres usar a mesma cor em dois materiais diferentes, esquece. mais vale ir por duas cores diferentes logo à partida). A manhã ia avançando, o choque mantinha-se, e surgiu a dúvida: foram os azulejos que vieram mal ou foi a madeira pintada da cor errada? Telefonema ao carpinteiro, que me garantiu que a cor que escolhi era aquela. Mais um 'problema' que tenho de adiar. Se a teima persistir pinta-se a madeira de outra cor e está feito.

azulejando

Na casa de banho de cima, outro problema. O mdf pintado é bonito, os azulejos são bonitos, mas em conjunto fazem um pandan que não sei se me agrada. A ver amanhã, com as juntas feitas.

da sala para o quarto

Passei grande parte do dia à volta dos senhores do azulejo. Percebi logo de início que o acompanhamento tinha de ser tão intenso que não iria conseguir concentrar-me no saibro. Percebi também que aquela dor de cabeça não ia fugir tão cedo. A meio da tarde, com os azulejos avançados, avancei para o saibro na cozinha.

Já de saída de Martim Tirado, o Luís apontou para longe. Que vinha chuva. De facto, uma nuvem de saia encimava uns montes para norte. Aquilo é o quê, Estevais? Mais para norte. Deve de ser Meirinhos. E a chuva vem por aí abaixo? Não, não deve vir não. Passado um pedaço, estava eu a entrar de novo na escola, e caíram umas pingas. Tinha ido à entrada abrir a água, procedimento obrigatório porque a torneira da casa de banho está partida e tem de se desligar a corrente quando não se está a usar a água. Mas eu tinha de lavar  loiça, por isso a água corrente era essencial. Tenho lavado a loiça na casa de banho, e os antigos cabides dos alunos servem como secador de loiça.

Ora uma tijela travessa, com a vertigem do abismo, escorregou-se-me das mãos. Movimento reflexo, a minha perna moveu-se na direção da tijela em queda, imitando certamente algum domínio de bola do Messi. A famigerada da tijela, para além da desconsideração de se partir, fez questão de o fazer no momento em que embateu na canela. O corte era feio, e mesmo antes de brotar o sangue percebi que era coisa séria. Desandei rua abaixo, à procura dos únicos vizinhos que restam aqui, o tio Avelino e a mulher. Lá me safaram com algodão e irudoid.

De seguida para Foz Côa, para um concerto no museu. E uma ida às urgências. A ferida cura, mas os quinze euros da urgência num sei nom.

museu do Côa

Centésimo décimo terceiro dia - porco voador

Para carnes o carneiro
Para sopas a codorniz
Não falando da perdiz
Mas se o porco voasse
Não havia carne que lhe chegasse

Assim fala o tio Amílcar, profundo conhecedor das lenga-lengas que pautavam os convívios antigos da aldeia (ou, como lhe chama a mulher, lenda-lendas). 'Carneiro' vem de 'carne', está certo. Assim como o barro vem da barreira e as castanhas do castanheiro.

O dia, felizmente, despertou brando. Consegui trabalhar desde a manhã até às seis, se bem que com grande esforço. As minhas pernas sofrem, e muito.

a continuação do quarto de baixo

Centésimo décimo segundo dia - chícharo

O meu corpo diz-me para, descansa, amanhã é outro dia. Nunca me senti tão cansado desde que começou a obra. E o dia nem foi especialmente intenso. Durante a manhã, que começou tarde, deixei o trabalho de fita-cola quase terminado. A ideia de cortar a fita antes de a aplicar revelou-se uma má ideia. Ou o x-ato é novo e resistente ou fica mal cortado e a fita parte-se facilmente.

Encontrei a tia Alcina ao chegar, de manhã. Então isso é o quê? Isto é feijão verde. Isso é feijão chícharo. Feijão-frade. Se quer pode almoçar connosco, vou cozinhar feijão verde.

feijão chícaro

Passei a tarde (involuntariamente) em Moncorvo à volta de burocracias. Voltei depois das cinco. Acabei o trabalho de fita e recomecei a aplicação saibro, até não haver mais luz. Os dias são cada vez mais curtos.

o início do quarto de baixo

Centésimo décimo primeiro dia - vassoura


Cheguei à obra pelas três, depois de almoçar na escola, e só fechei as portas da casa eram já oito e meia, a partir do momento em que a falta de luz tornava quase impossível a aplicação de  fita-cola na madeira. À falta de mão de obra, atirei-me eu ao trabalho.

Com uma pequena inovação. Um dos dramas da semana passada foi a aplicação de fita-cola de 25mm numa régua de 21mm. A solução, que me veio durante a viagem, era reduzir no rolo a largura, cortando-o, em vez de o fazer depois de aplicado, com o x-ato. Apesar de cortar um rolo de fita-cola não ser uma tarefa fácil, tudo se resolveu.

cortar a fita - já faltou mais

A tia Clementina azafamava-se com um montão de giestas. Adivinhei que estava a fazer uma vassoura. Dantes quantas não fazíamos. Era com estas que varríamos a eira, depois de batermos os cereais. Agora é mais difícil fazer destas vassouras porque isto faz-se com a giesta branca. Antigamente era a única que havia.

fazer uma vassoura de giesta

Na ruína do forno cescem as silvas e, descobriu o Paulo a semana passada, uma abrunheira. Enchi-me de comer.

Centésimo décimo dia - chefinho

Hoje acordámos mais tarde, por indicação do 'chefinho'. De que vale a pena acordar às sete se ninguém se levanta antes das oito? A manhã, no entanto, foi proveitosa. Como era o último dia de trabalho, adiámos a saída para almoço até que acabássemos o quarto de cima, já que a sala ficou acabada no início da manhã. E assim foi. Esfomeados, mas concentrados na tarefa, fechámos a casa com metade do saibro acabado.

o Hugo a fazer chão

Centésimo nono dia - azulejo

A tropa seguia insatisfeita com as condições de trabalho. Ah, tanta coisa com o rio e tal e nada de rio. Que não seja por isso. Seguimos diretamente para Mazouco, para uns mergulhos após o almoço. Avançámos para a sala, já com a técnica aprimorada. Ainda não é desta que entra o barro.

Os senhores do azulejo vieram de manhã e despacharam a cozinha. No entanto, o azulejo das casas de banho vinha errado, por isso fica para a semana essa parte.

azulejo à vista

Centésimo oitavo dia - aprender

Nem a fita de eletricista nem a fita-cola de papel barata - só a fita da tesa nos safou. Logo que chegámos despachámos a proteção da madeira, tanto da grelha como da caixa técnica (esta última com cartão canelado). Quando acabámos juntaram-se todos à minha volta, como numa aula, à volta do professor. Lamento, só sei que é para molhar, aplicar e bater. A técnica vem depois.

o Hugo a pôr fita

Choveu a noite toda. A Alcina pedira-nos chuva, como quem pede uma maçã.

Centésimo sétimo dia - fita


Primeiro dia da nossa pequena oficina informal de terra batida. Somos quatro arquitetos, prontos para tudo. Bater saibro, domar osgas, apanhar abrunhos em ruínas. Hoje, como começamos apenas perto das cinco da tarde, deu apenas para pôr fita no quarto de cima e na sala. Os 36° da última sexta fizeram todo o tipo de fita descolar, mas hoje, com um dia fresquinho e com fita-cola de papel tesa tudo se resolveu.

o Hugo numa pausa
Os carpinteiros passaram o dia na obra e deixaram tudo pronto para a terra, e pregaram mais uns barrotes para o armário entre a sala e a cozinha.

Amanhã somos cinco. Aí ninguém nos para.

Centésimo sexto dia - batman

Talvez o dia mais difícil de passar até agora. Disse-me um taxista conhecido, em Freixo, que estariam 36°. E quando o sol surgia por detrás das nuvens. Deus meu.

O dia comecei-o cedo, como já é hábito. Tinha de descarregar o carro, em parte cheio de material para a terra batida, por outro lado carregadíssimo com o essencial da loiça sanitária para a casa. Testei também uma mangueira nova, ligada à torneira da banca dos meus avós. A mangueira servirá para humedecer o saibro e para molhar o barro, a usar no chão. 

Os carpinteiros começaram com o reguado (para conter a terra batida) no quarto de cima. Como eu esperava que as réguas fossem de contraplacado (1,8 centímetros de espessura), disse ao carpinteiro que podia cortar as réguas transversais, que serviam como bitola, com 18 centímetros, e as compridas vinham com folga e acertavam-se na obra. Para minha surpresa, as réguas eram de madeira maciça e tinham mais de 2 centímetros de espessura. Ao juntar-se as réguas todas não batia certo, portanto todas as bitolas tiveram de ser acertadas um milímetro. Como em tudo na vida, só custa à primeira.

o Carlos em ação

desfasado

quarto, sala, cozinha. assim se faz uma casa

Com o trabalho a avançar a bom ritmo (e como ninguém me fez o almoço em Martim Tirado), rumei a Freixo, para rango pago, uma máquina de lavar roupa para escolher e uma incrível exposição de arte quinhentista para visitar. Não sei quem se lembrou de inventar que teria sido Grão Vasco a pintar as telas (que fazem parte do retábulo da Matriz e foram recentemente restauradas na biblioteca, já que os freixenistas fizeram barulho e não deixaram sair as telas), mas a exposição vale bem a pena. Aconselho a visita agora, que as telas estão à altura dos olhos, porque em setembro voltam ao retábulo, e aí só de binóculos.

(não é Grão Vasco)

Ao voltar, uma contrariedade. A luz falhou, a vizinha não deixava ligar à casa dela, e o trabalho dos carpinteiros ainda mais atrasado. Sempre a apagar fogos, lá convenci a vizinha a emprestar a luz até ao fim do dia, e chamei o piquete da EDP para o conserto, concretizado ao fim da tarde. O impasse traduziu-se no trabalho inacabado.

Também por lá passou o senhor do gás, que selou o tubo furado na semana passada e o senhor dos materiais de construção, que me trouxe o barro. O saibro chega amanhã. 

Comecei a proteção da madeira. Da fita-cola de eletricista (um flop), passei para fita-cola de papel, mais apropriada à madeira mas ligeiramente mais larga. Tive de tirar o excesso ao X-ato, o que torna o processo mais trabalhoso. E ainda estou para ver se a fita-cola de papel não salta como saltou a de eletricista.

Pedi ao Zé Manel que me mostrasse um amendoal que o meu pai não herdou e que estaria ao abandono. E É GIGANTE. E eu que achava que as minhas quinze amendoeiras eram muitas. Ali haveria mais de cem, todas por limpar, o terreno por arar, silvas a prosperar. Talvez algum dia lhes possa dar a devida atenção.

Lá fora ouço o morcego, sempre a chiar. Talvez por isso não tenha insetos no quarto. Tenho o batman do meu lado.

Centésimo quinto dia - lenga-lenga

Onde foi este gigante criado?
Nas Quintas de Martim Tirado.
Com leite quente bem migado
e toro de míscaro assado.

E avança tudo, em força. Os eletricistas montam caixas e assentam candeeiros; os carpinteiros montam calhas e assentam móveis. Apenas um pequeno detalhe: um dos carpinteiros furou um dos tubos de ar condicionado, atrasando o fecho das calhas. Primeiro temos de chamar um senhor para soldar o tubo, segundo temos de injetar gás de novo no sistema. Com outro senhor, imagino eu.

a estrutura

calha técnica 1

calha técnica 2

Centésimo quarto dia - na piscina

Eletricistas em força, a furar o quintal (e o muro) para fazer a ligação da casa à rede. O carpinteiro apareceu a meio da manhã para medir as placas para tapar a zona técnica. Amanhã monta-se. A tarde passei-a na piscina de Moncorvo.

o senhor da eletricidade faz a sua cena

Centésimo terceiro dia - gineta


Começou agosto, entraram os eletricistas. Logo de manhã vieram três eletricistas (um para explicar como era a obra e os outros para executar) e o engenheiro (basicamente para me dar nas orelhas, que assim não podia ser, etc.). Começou-se a instalar o que dá - interruptores, apliques, a caixa da eletricidade, da API.

primeira tomada

A construção em terra pode ser incrivelmente benéfica para o ambiente, mas, como em tudo, tem de ser bem pensada. Durante a tarde, depois de uma soneca pós-almoço sob os pinheiros, fui ver do saibro. Quem me atendeu o telefone falou que sim, claro que se arranjava o saibro, apesar dos ambientalistas. E lá estava o saibro, em pilhas gigantes. Trouxe uma amostra para testes.

Ao voltar do saibro encontrei uma gineta, morta por algum carro. Já vi várias a fugir dos faróis dos carros, mas nunca assim tão próxima, tão real. Pobre coitada.

pobre da gineta

Pouca sorte teve também a Fidalga. Passou um dia presa a um laço (mais uma vez, de autor anónimo) que lhe prendeu a pata, que ficou ferida.

Talvez por causa da pata dorida, a Fidalga não quis acompanhar-me na caminhada do costume. Cortei pela eira junto à casa, pinhal adentro. Passado o cabeço, desci por um amendoal. Atraía-me uma casa abandonada, mais uma, esta com dois pisos, que em Martim Tirado só acontecia quando construídas sobre desníveis. Via-se de fora que o telhado não dura muito. O interior, no entanto, estava mantido. Casa de morcegos, que esbracejavam sobre a minha cabeça. A casa, comprada pelo que me dizem por pessoas do Porto, tinha de ser recuperada agora, antes que caia o telhado.

todas as casas têm um