Foi numa fresca manhã de setembro que descemos às ribeiras de Martim
Tirado. Fresca pela hora madrugadora, porque o dia seria de calor. A
Fidalga, como não podia deixar de ser, guiou-nos pelo percurso.
Fruto duma feliz associação entre as gentes da aldeia e o poder local,
percebemos ao longo dos últimos meses que avançava a construção de um
percurso pedestre dentro da aldeia de Martim Tirado. O percurso era
bastante óbvio e já tinha sido por nós tentado: ligar a cota alta à
cota baixa da aldeia, estabelecendo um percurso circular pelos vales dos
afluentes da ribeira de Mosteiro (que desagua no Douro junto a Barca d'Alva)
As ribeiras eram a fonte de água da aldeia e onde se cultivavam hortas e se mantinham alguns pomares. Por todas as ribeiras existiam moinhos (os de Martim Tirado eram especialmente afamados por se manterem em funcionamento verão fora) e, onde não era possível o cultivo, os trilhos que existiam eram apenas utilizados pelos moleiros ou pelos pastores. É essa a razão de ser do nome do percurso: Trilho dos Moleiros.
Um percurso com a mesma ideia (mas uma escala mais modesta) estava já disponível na nossa página para quem o quisesse percorrer. Chamei-lhe Fonte da Saúde.
O Trilho dos Moleiros, o novo percurso na aldeia, tem um início semelhante a este. Tomando a Quinta dos Baldo como início, e no sentido dos ponteiros do relógio, percorremos a estrada até à Portela, onde se encontra a bela casa do Avelino, uma das poucas da aldeia com dois pisos. Em frente a esta encontram-se as escolas, a antiga e a nova.
![]() |
A Portela pela manhã. Foto da Winkie Moon. |
As ribeiras eram a fonte de água da aldeia e onde se cultivavam hortas e se mantinham alguns pomares. Por todas as ribeiras existiam moinhos (os de Martim Tirado eram especialmente afamados por se manterem em funcionamento verão fora) e, onde não era possível o cultivo, os trilhos que existiam eram apenas utilizados pelos moleiros ou pelos pastores. É essa a razão de ser do nome do percurso: Trilho dos Moleiros.
Um percurso com a mesma ideia (mas uma escala mais modesta) estava já disponível na nossa página para quem o quisesse percorrer. Chamei-lhe Fonte da Saúde.
O Trilho dos Moleiros, o novo percurso na aldeia, tem um início semelhante a este. Tomando a Quinta dos Baldo como início, e no sentido dos ponteiros do relógio, percorremos a estrada até à Portela, onde se encontra a bela casa do Avelino, uma das poucas da aldeia com dois pisos. Em frente a esta encontram-se as escolas, a antiga e a nova.
![]() |
A casa do Avelino. Foto da Winkie Moon. |
Continuámos pelo asfalto até à Eira do Incenso, onde mora grande parte dos habitantes da aldeia. Depois do depósito de água e antes do tanque virámos à direita. Entre as casas procurámos um estreito caminho. É por este caminho, entre campos e amendoais e belos muros antigos, que começámos a descida às ribeiras. À direita, mais acima, ainda vemos as escolas, por onde passámos antes. É a partir daqui que entrámos num caminho franco, em terra batida, que nos levará durante os próximos quilómetros.
O caminho até à Fonte da Saúde segue sem grande história. O vale é aberto, a descida faz-se bem e apenas as formações rochosas do lado direito nos chamam a atenção.
![]() |
Xistos recurvados. |
Ao chegarmos à Fonte da Saúde encontrámos o primeiro curso de água digno desse nome, a ribeira da Saúde. Encontrámos também a tia Isaltina, que lá tem uma horta alugada.
![]() |
Conversa de horta. Foto da Winkie Moon. |
É na fonte da Saúde que os caminhos se separam. Enquanto que o nosso percursozinho seguia pelo vale da ribeira da Saúde, em meia encosta, até encontrar as casas do Canto e logo a seguir a Quinta dos Baldo, o Trilho dos Moleiros segue em linha reta, encosta acima. Já uma vez tentámos este percurso, mas a inexistência de caminhos abertos pelas ribeiras impossibilitou-o.
Encosta acima seguimos na direção da Eira das Vacas, cujas casas abandonadas dominam um pequeno planalto. É tempo de voltar às ribeiras.
Até chegarmos à ribeira de Freixo (da qual a ribeira da Saúde é afluente) o percurso é feito em meia encosta, que já terá ardido por várias vezes e com pouca vegetação. É daqui para a frente, depois da barragem da Ferradosa, que o percurso se torna deveras interessante.
![]() |
Ainda na Ribeira da Saúde. Foto da Winkie Moon. |
É quando mergulhámos (metaforicamente e literalmente) nas ribeiras que nos apercebemos da riqueza que ali está escondida. Enquadrada por encostas abruptas e desnudadas está uma galeria ripícola fresca e rica, à espera que os montes recuperem a sua floresta nativa para que façam de novo parte dum mosaico florestal como o que existiu antes da presença humana. Esta "floresta linear" tem freixos, choupos e amieiros, mas também pilriteiros e sabugueiros. Os pilriteiros, esses, são dignos de visita, por ascenderem a dimensões invulgares.
![]() |
Um dos pilriteiros de grande escala. |
O correr das águas atrai pássaros e libelinhas e todas as outras formas de vida que não vimos mas adivinhamos. Num sítio tão pouco percorrido as espécies mais ariscas da nossa fauna fazem a sua vida sem perturbação, e são estes abrigos da natureza que garantem a sua presença no território.
![]() |
Jacuzzi natural. Foto do Hugo Borralho. |
Por todo o caminho encontram-se também inúmeros moinhos, e muitos deles mantêm ainda as paredes e os mecanismos de moagem. Um deles preserva ainda os caneiros que conduziam a água das levadas para o interior dos moinhos e mesmo um tubo gigante de granito que aumentava ainda mais a pressão da água para que as mós moessem ainda mais rápido.
![]() |
Os incríveis caneiros, ainda em bom estado. |
Pela Raivosa até ao Mixordo fomos encontrando algumas cascatas de ação humana que puxam ao mergulho. Uma delas tem mesmo uma pequena ponte e um espaço aberto junto a um moinho, que convida a um piquenique e a um tempo bem passado com os amigos.
![]() |
Perfeito para piqueniques. |
Também notáveis e dignas de visita são as formações rochosas que consistem na ação da gravidade no xisto, o que lhe dá uma forma torcida. Estas formações são apenas visíveis pela erosão causada pelas ribeiras, que tem o seu clímax mais a jusante, antes da foz da ribeira de Mosteiro, junto a Barca d'Alva. Algumas das formações parecem quase entradas de cavernas.
![]() |
O que haverá do outro lado? Foto da Winkie Moon. |
![]() |
Como exploradores. Foto do Hugo Borralho. |
O regresso à Casa é o ponto mais desfavorável do percurso. Desde o Mixordo até à Casa é sempre a subir, a sombra é escassa e a paisagem tem menos estória.
Em resumo, este é um percurso de cerca de 10 km que percorremos em 6 horas. Pode ser percorrido em menos tempo, mas são tantas as razões para parar que não o aconselhamos. Apesar de nas ribeiras a sombra ser muita há uma parte boa do percurso que é feita a descoberto, pelo que se recomendam alturas do ano mais frescas ou, se lá estiverem no verão, que comecem cedo. Desta vez fizemo-lo no sentido dos ponteiros do relógio, por isso guardamos para a próxima caminhada a certeza de qual o melhor sentido para o percurso.
![]() |
Postal instantâneo. |
O percurso ainda não está marcado nem existe ainda qualquer material informativo ou de divulgação. Esperam-se novidades para os próximos tempos. Até lá, fica o gpx e o kml do percurso para quem o quiser percorrer. Em baixo está o percurso no OpenStreetMap, ainda com alguns erros:
![]() |
Foto do Hugo Borralho. |