Segundo dia - caboucos

dia-a-dia: fugiu a casa

Passei mal a noite. Cheguei tarde à obra, um tanto depois das dez. Dois homens (Paulo e Carlos, vim a saber depois) limpavam os caboucos. Um com a enxada, mais ativo, o outro com a pá, só intervindo quando surgia uma pedra maior. Um deles (Paulo) lá se ia queixando que aquilo com a máquina é que era. Assim demoramos o dobro do tempo, tá-me a perceber? Ao fim do dia já me dizia que despacharam, só eles, o serviço. Falava-me garboso, que o patrão queria só metade mas eles fizeram tudo. Tirando um canto, refém da água da chuva acumulada.

Antes do almoço encontrei-me com o empreiteiro e com o carpinteiro, o Bruno. Dois mundos opostos. Um, ininteligível, fechado. Conduz um Audi. Mora numa casa virada para as arribas, onde planeia construir uma piscina. O outro é novo, simpático, acessível. De trato fácil. Gosto dele. Só não usamos madeira de castanheiro cortada por ele porque a seca é de pelo menos um ano. Dois verões, dois verões com um inverno. Até se arranja, isso logo se vê.

A tarde passei-a a tirar peças de roupa com o calor e a tentar achar jeito num monte de entulho. Passadas as quatro da tarde consegui soltar um olmo cortado e achar a moldura da porta da casa. Peças gigantes. Uma parece a soleira, pelo desgaste. Outra uma ombreira. Notei pela face trabalhada e pelos líquenes.

Achei pedras lindas. Tentei pôr os seixos de quartzo separados dos outros, enquanto imaginava uma casa feita só de quartzo. Um pedaço de xisto escuro pareceu-me madeira. Um tronco de xisto. Noutra os líquenes eram laranjas. Achei também uma das pedras que encimavam a lareira. Estava queimada num dos cantos.

Ao fim da tarde, com os homens já longe, lembrei-me da roseira a podar a pedido do meu pai. Como a tesoura e a serra do Luís podei uma vide e duas figueiras. Só parei quando o Luís me avisou que o tempo já tinha passado. A roseira já tinha folha, já não era o tempo também.

o Luís chegou com as giestas

O Zé Manel e a Fernanda (a minha futura cozinheira) convidaram-me para jantar. Gosto muito deles. Quando os achei estava o Zé Manel a ordenhar as cabras, e antes de sair fotografei a Fernanda a fazer o queijo. Não fossem os cabritos a mamar e dava para fazer três queijos.

fabrico de queijo 1: espremer

fabrico de queijo 2: encher

fabrico de queijo 3: comer

Liguei o aquecedor a gás para não morrer de frio na cama. A ver se durmo melhor.

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