Septuagésimo quarto dia - lajeado

É como montar um puzzle, dizia-me um dos pintores que andam na casa da tia Clementina. Referia-se à pedra montada no chão, lajeado com lousa do Poio. Tinha grande receio do resultado do lajeado. Para já, posso  dizer que fica bem nas fotos.

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(foto)

A chuva acabou e num dia fizemos um terço do lajeado. Sempre que lhe dizia para rapar o cimento entre as pedras, o empreiteiro lá resmungava que as pedras iam ficar soltas, que é o cimento entre elas que as segura, que não vai crescer musgo nenhum entre elas, etc. A maneira como os anos passam é do que mais me interessa na construção. Quero musgo no chão e nos muros e líquenes nas paredes. Quero voltar a ter olmos frondosos e que a ramada torne a canícula menos pesada. Quero roseiras, de folhas pequeninas, a bordear o beiral, recebendo quem entra num abraço verde.

Um pássaro fez ninho dentro da casa. Espero que os bichitos cresçam antes que venham os vidros das portas e janelas. Depois da andorinha e da Fidalga, este é já o terceiro hóspede da casa. Ele e os seus três rebentos.

pitos

Vim a Freixo a um funeral. Pediram-me folhas de amoreira, para alimentar uns bichos da seda. O calor voltou. Ontem vim pela estrada nova, mas volto de quim. Há coisas de que não abdico.

Passei na casa antes de seguir para a Macieirinha. Só encontrei dois dos passaritos. Um estava morto, o outro a meio caminho, o terceiro desapareceu. Não sei se foi o meu manejo que os deixou assim, se as quedas, se o abandono dos pais.

Veem-se estorninhos por todo o lado. Rabões, menos. Ontem vi duas cobras mortas na estrada. Estão a sair das tocas. Parece que pressentem a água, diz-me o Amílcar.

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