Septuagésimo quinto dia - gaiola


Uma restolheira de conversas cruzadas, palavras novas, mundos que desconhecia. Uma nova: mosqueiro, o armarinho da foto, criado para guardar carne e peixe frescos da voragem das moscas. Outra: a sardinha é boa, é de marca. De marca? É, é da marca sedou. Sedou? Então, se foram dadas. Mais uma: recatreca, o nome que o tio Amílcar inventou para o trovão. Uma mulher taluda é uma mulher gorda. Gordinha, vá.

o mosqueiro
(foto)

Se bem que já o esperava, hoje de manhã alcei-me sobre a porta e apalpei o ninho. O pito que ontem era moribundo era já cadáver. Morreram todos. O gato levou o que sobrou. Um chapim-de-poupa, talvez à procura das crias, tanto bateu nas clarabóias que o Tiago, um dos montadores, o agarrou sem dificuldade. Até para fugir precisou de incentivo. As andorinhas também aproveitaram a ausência de portas (o empreiteiro levou-as ontem para as furar) para começarem um ninho, no quarto de baixo. Tapei-o para evitar outras tragédias. Já ontem tinha limpado o ninho que uma andorinha infeliz tinha feito sobre o contador da luz da casa do meu avô. Esse ninho, felizmente, não deu criação.

Estou derreado do trabalho dontem. As pernas pesam-me a cada passo. Consegui trazer os toros que restavam da amendoeira seca para cima, mas ao tentar o mesmo com o tronco desisti pouco depois de começar. O carrinho foi lá deixado pelos homens exatamente por estar estragado, com o pneu furado. Tentei com o carrinho novo da obra. Desisti quando caiu pela terceira vez. Fiquei com os braços marcados pelo esforço. A tia Alcina deixou o macho pastar no meu  quintal. É tipo um cortarrelvas que zurra.

macho cortarrelvas
(foto)

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