Quadragésimo nono dia - carvalhal

dia-a-dia: está na hora do telhado

O dia acabado, já pouca luz sobrava sequer para caminhar, e eu ainda lá, na Quinta dos Baldo. Primeiro olhava as telhas, um beiral já acabado, um esboço do que será um telhado acabado. Depois o interior. Algum clique ficou por acontecer no meu cérebro porque continuo a passar longos minutos embasbacado a olhar as madeiras, sempre ao fim da tarde, depois dos homens partirem. O fascínio continuou mesmo depois de arrancar para a Macieirinha. Parei o carro um pouco mais à frente para olhar o beiral.

A Clementina, mal cheguei, logo me intimou a livrar-me dos cachorros. A cadela já não tem leite, os cachorros já comem comida, ainda ontem lhes dei arroz. A cachorrada tem de ir. O empreiteiro e o Luís, um dos assalariados, levaram cada um o seu cachorro. Eu levo outra amanhã. Fica apenas mais uma, cachorrinha, adoentada, a mais pequena de todas. Preciso de um dono que precise de uma cachorrinha.

À hora do almoço, a caminho de Freixo para mais uma jornada de burocracia, reparei na beleza do carvalhal. O terreno, pertença do Estado, já ardeu várias vezes, e está agora, penso, na guarida das Juntas. Como nas Juntas não entra a questão do lucro rápido, entra a razão. Plantar eucaliptos e pinheiros, que ardem todos os anos? Isso é estúpido. Planta-se é carvalhos, que quando há incêndios permanecem. E assim foi. Tanto plantaram os carvalhos, americano e alvarinho, como agora limparam o terreno à volta dos carvalhos, para que cresçam com mais vigor. E podaram os carvalhos mais pequenos. E arrancaram as mimosas, quase já a formar um bosquete. Quase me vieram lágrimas, tanta era a alegria. Todo um país podia ser assim, simples.

um carvalhal em crescimento

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