Quinquaségimo sétimo dia - falando de pinhos


dia-a-dia: o entulho vai desaparecendo

Dia de anos. Antes das dez, estava eu para sair, e telefonam-me. Engenheiro, bom dia. Engenheiro? Tou sim, engenheiro? Tou sim. Engenheiro, é o Nuno da Raiaplac. Eram os homens do pladur. A minha conversa telefónica dontem com o patrão deles, em que lhe disse que se continuava apenas depois de vir o eletricista, serviu para nada. Estavam lá desde as oito à minha espera para fazer as divisórias interiores. As divisórias interiores! O que ainda falta para lá chegar. Até placas de pladur trouxeram, para esse efeito. Vendo-os sequiosos de trabalho mostrei-lhes uma ponte térmica que ficara por corrigir e fui até ao carro tentar perceber se podiam começar já a encaixar o isolamento nas calhas, e onde. Faltavam-me elementos, ainda não falei com nenhum eletricista, e assim pedi-lhes para instalarem a cortiça em tudo menos à volta das janelas. Sempre se adianta trabalho.

já com cortiça

Esperava-me Freixo e mais um rol de papéis para serem assinados. Ao voltar a Martim Tirado, pouco passava do meio-dia, fui ver do tio Silvério. Ainda não voltara da horta. Tímido como sempre, pedi almoço na seguinte forma: não me arranja aí um pãozinho com qualquer coisa, que já me chega, ao que a Clementina me respondeu, pão não tenho, pus um a descongelar de manhã e ainda deve estar congelado. Obviamente que não percebeu o meu pedido. Assustado pela fome, rumei ao Artur, em Carviçais. Abençoado seja.

Procurei de novo o tio Silvério em casa. Disse-me a vizinha que à uma foi a ver de mim, que eu lhe tinha dito que à uma se ia ver o pinhal. Tretas. Nem tinha combinado horas. Já junto à casa encontrei o Amílcar, em visível alvoroço. O tio Silvério já lá tinha estado, e como eu não aparecia foram os dois ver dos pinhos. Já no pinhal desentenderam-se de razões e por pouco o Amílcar não lhe deu com a vara. Que era o que ele merecia. Então se para mim branco é branco e preto é preto, que não ando cá a confundir tintas.

A estória conta-se rápido. Ao contrário do que me contou da primeira vez e ao arrepio da opinião de todos, o tio Silvério dizia agora que os pinhos altos não eram meus. Pior, tanto não eram meus que pertenciam ao tio Amílcar. Parece-me uma estratégia suicida essa de tentar convencer alguém da posse de outro terreno que não o seu. Para piorar, ainda sugeriu que alguém tinha mudado marcos de lugar. Marcos cobertos de musgo!, garantia-me o tio Amílcar.

o musgo nos marcos

Não contente com a sua ideia, o Amílcar sugeriu o tio Avelino como derradeiro guardião da verdade dos pinhos. E o tio Avelino confirmou: aqueles eram mesmo os meus pinhos, e muitos mais encosta abaixo, até um antigo campo, coberto agora de musgo fofo e de pinhos. Com a certeza de grande parte dos marcos, resta-me agora sinalizá-los, criar uma rodeira a toda a volta do terreno e começar a serrar.

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