Percorrida cerca de meia légua o meu cavalo parou, sem se saber porquê. Levantou
a cabeça calmamente e com curiosidade observava um agrupamento de sete estrelas
que formava uma figura como a de um leão. Isto durou pouco tempo, possivelmente
por ter medo dele, e logo passou a observar duas estrelas brancas de maior tamanho e
mais brilhantes. Parecia-me que comunicava com elas através de pequenos relinchos
e espirros, com o alongar do pescoço para se aproximar mais delas, ao mesmo tempo
que escavava o chão com as patas dianteiras. Recebidos os sinais que buscava logo
retrocedeu e tomou outro caminho. Então acreditei que a estrela que tinha na testa lhe
dava poderes misteriosos, que lhe permitiam comunicar com as estrelas e delas receber
orientações que lhe indicassem o caminho a seguir para encontrarmos os salteadores que
uns dias antes em Vale de Ferreiros haviam roubado um cavalo e o dinheiro que levava
um fidalgo de Martim Tirado.
O nome do fidalgo não se pode saber agora, só se saberá mais adiante, onde terá mais
cabimento, quando se falar da sua sorte favorável e das suas qualidades.
Continuámos a nossa viagem subindo pela encosta de uma montanha chamada
Reboredo, por ter muitos carvalhos. Dos rochedos brotava água abundante, a qual em
pequenas quedas amortecidas por rochas arredondadas e por plantas aquáticas produzia
uma música agradável, misturada com o som das campainhas das coleiras dos animais
Sem darmos conta, chegámos ao seu cume e então vimos a lua atrás dele, como
se estivesse ali escondida, dando a impressão de que estava à nossa beira. Cobria-a
um manto de tonalidade amarela, um pouco parecido com as searas maduras ou ervas
comestíveis dos animais. Teria ocorrido ao jumento do Botelho a ideia de que se desse
uns passos em frente poderia comer aquele cereal. Tentou fazê-lo. Porém, o animal
embora de inteligência escassa, cedo se apercebeu de que precisaria de percorrer uma
grande distância para atingir tão apetecível pastagem. Por isso, com algum desgosto,
desistiu e passou a comer uma erva de inferior qualidade que estava à sua frente.
Nisto, estando o jumento de lado em relação a mim reparei novamente no seu olho
amarelo, então de uma tonalidade parecida com a tonalidade da lua. Porquê esta quase semelhança? Tudo levava a crer que havia uma relação oculta entre o olho do jumento e a lua cheia - pelo menos existia semelhança no facto de ambos iluminarem a terra durante a noite.
Conto de António Júlio Lopes. Publicaremos os próximos capítulos ao longo das próximas semanas.
Conto de António Júlio Lopes. Publicaremos os próximos capítulos ao longo das próximas semanas.
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