Vigésimo sexto dia - beldroegas

dia-a-dia: mais um segundo e já se viam as janelas

Quando liguei a televisão, pouco passava das seis da manhã, falava-se do incêndio da Nogueirinha. O maior incêndio do ano, diziam primeiro. O maior do distrito de Bragança, comentavam depois. A senhora a quem comprámos a Residência Baldo é da Nogueirinha. A Clementina a mostrar a mim e ao empreiteiro onde era o terreno onde o meu avô tinha as colmeias e eu a pensar que tanto terreno a monte era o paraíso do pirómano. Na Nogueirinha até amendoeiras arderam. E eucaliptos. Eucaliptos! Quem se lembrará de plantar eucaliptos em Trás-os-Montes.

Dia de máquina na obra, dia de azáfama para preparar o que já devia estar preparado e de montar tudo para que a retroescavadora pudesse elevar as pedras sem nome para suavemente as pousar, já como toiça, ombreira ou soleira. Ainda não está resolvida a questão da ‘porta original’. Os pedreiros voltaram a dizer-me que era impossível, lá andamos com a retro a revolver o entulho, a tentar perceber onde estavam as pedras em falta. Só ao fim do dia se achou a toiça, resgatada ao monte de entulho que se acumulava no terreno das colmeias. Ao despejá-la da camioneta, o empreiteiro deu-lhe o fim que décadas de uso não lhe deram – rachou. Ainda assim, como se soltou apenas uma lasca (se bem que considerável e estimável - tinha ainda os buracos originais da porta), os homens dizem que dá para colocá-la lá na mesma. Já não tem caráter estrutural, serve assim.

uma no Paulo, outra na pedra

a domesticação da pedra

fila de espera para a consulta

olhímetro?

quem vir de dentro até pensa que é uma janela

temos janela, temos músculo, temos precisão

A Alcina, depois do chef Ró, foi a segunda pessoa a supreender-me à mesa esta semana. Sopa de beldroegas! Ómega 3 power!!! Foi também com ela que aprendi a melhor frase da semana, evolução de outra que conheço bem: muito e bem não há quem - pouco e mal qualquer animal*. Apanhei outra da Clementina, em improviso: prédio sem rodeira não é prédio nem é nada.

as sábias mãos da Clementina e da Alcina

sopa de beldroegas

Antes de ir embora podei as pontas das parreiras, tentando evitar ramos com cachos. A parra que sobrou foi para as cabrinhas da Fernanda. Quando andámos com o tio Adelino apercebi-me do fascínio das cabras para com a vinha, para a qual olhavam e cercavam até que o pastor lhes atirasse mais uma pedra, e desistissem.

*A boca era para os artistas, a quem todos elogiam a beleza das paredes mas que são leeeentos.

Sem comentários:

Enviar um comentário