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Plantando um jardim autóctone, económico e sustentável

5 - Manutenção

 Toda a obra tem uma vida pela frente. Não se esgota no dia da inauguração. Mais de dois meses depois de ter cessado as plantações, aqui fica um resumo do que é hoje em dia o jardim autóctone, económico e sustentável da Quinta dos Baldo.

Bela-luz

O que sei que correu mal:

  • A terra é difícil. Não comprámos terra nova, trabalhámos apenas com o que tínhamos. Para as espécies autóctones isso não é problema, e algumas até prosperarão melhor naquela terra barrenta e seca. O inverno chuvoso ajudou muitas delas, mas comprovei uma das verdades absolutas que aprendi em Martim Tirado: quem lavra à chuva (ou depois de chover) não colhe nada. A terra mexida fica chumbada. E como a terra era pouca, não deu para fazer caldeiras à volta das plantas, para angariarem mais água da chuva.
  • A plantação foi tardia. As plantações começam-se no outono, não a meio do inverno. A chuva até ajudou, mas não foi o suficiente para muitas plantas.
  • Não acompanhei diariamente a evolução do jardim.
  • Não é fácil arrancar as plantas sem danificar a raíz.
Esta foi a evolução das diferentes espécies plantadas:

  • Arçã (rosmaninho): 80% de sobrevivência. Tirando os condenados à partida pelo torrão desfeito, todos os outros se safaram.
Arçã
flickr

  • Bela-luz (tomilho): 80% de sobrevivência. Morreram os que tinham de morrer.
Bela-luz
  • Xagarço: 60% de sobrevivência.
  • Carrasco (azinheira): apenas plantei um, que levou caminho. O transplante dos quercus é lixado.
  • Roseira-trepadeira: ambas estão porreiras e já a trepar pela parede.
    Roseira-trepadeira

    • Camélia: uma das exóticas do grupo, está a levar caminho. Não deve gostar da terra.
    • Carqueja: tudo morto. O transplante foi complicadíssimo. Para o ano tento com semente.
    • Alecrim: nenhum restou. Não fui eu a tratar do transplante e as plantas, quase todas adultas, não gostaram da experiência.
    • Alecrim-das-paredes: tirando o sítio onde a Fidalga gosta de dormir a soneca (onde todos morreram), todos os outros se safaram bem.
    • Azevinho: parece saudável, já com bagas novas.
    Entretanto, a ala norte do jardim, junto aos olmos, já levou sementes de giesta. Plantei-as como as apanhei, dentro da vagem. Um buraquinho ligeiro e rega. Plantei também sementes de rosmaninho no miolo do quintal e junto ao caminho.

Plantando um jardim autóctone, económico e sustentável

4 - Plantar


O propósito deste jardim é plantar apenas plantas da região / nacionais, prefencialmente recolhidas localmente. O azevinho (Ilex aquifolium) foi a única planta regional / nacional comprada, e as únicas exóticas são a roseira-trepadeira (Rosa spp) e a camélia (Camellia L., plantada muito a contragosto).


Estas são as plantas que já estão na terra:


Bela-luz (Thymus mastichina): o tomilho da região, usado muito na água das azeitonas. É, segundo Luís Alves, "o mais fantástico dos tomilhos que conheço". Trouxe-mos o Luís (o vizinho), apanhado no Lombelo. Só depois de os plantar é que percebi que "gosta de solos bem drenados, expostos ao sol", se não não os teria plantado à entrada, onde o muro tapa todo o sol matinal, e onde poderá haver humidade a mais. Quando arranjar mais planto-os em sítio mais solarengo.

Bela-luz (tomilho)

Arçã (Lavandula stoechas): aqui chamam arçã ao rosmaninho, a famosa aromática que faz as primeiras colonizações, antes das giestas e estevas. Aparece nas bordaduras de giestais e pinhais e é omnipresente nas bermas dos caminhos. Está a florir agora (abril), e algumas das plantas transplantadas já têm flor.

Arçã (rosmaninho)

Carqueja (Genista tridentata L.): já há muitos anos que a carqueja faz parte das opções gastronómicas da minha família. O coelho é sempre estufado com uns raminhos da dita; havendo carqueja, uso-a sempre para aromatizar o arroz; havendo flor, a infusão é deliciosa (e boa para o colesterol, dizem-me). O arroz de pato com carqueja é também muito vulgar. As carquejas que consegui arranjar vieram de matagais de giestas e pinheiros jovens e são um pobre arremedo de um arbusto. Tiveram de lutar pela vida, são tortinhas e fracas, e foi difícil arrancá-las com torrão. Espero que deixem descendência.

Carqueja

Alecrim (Rosmarinus officinalis): trouxe-mo a tia Clementina. Fomos a um amendoal dela e pelo caminho encontramos um alecrim, grande como uma pequena árvore. Vendo o meu ar fascinado, voltou lá e trouxe-me seis pés. Não sei se o alecrim é autóctone mas é certamente uma bestial contratação para o jardim.

Alecrim

"Alecrim": já percebi que isto não é alecrim; estou à espera que uma alma caridosa me identifique o bicho. Achei-o no caminho para a escola, junto ao rosmaninho. Fica a forrar os canteiros.

'Alecrim', entre outras

Xagarço (Halimium umbellatum): plantinha que, crescendo com espaço e luz, forma tufos agradáveis à vista. Parece uma mini-esteva: até as flores são parecidas.

Xagarço

Carrasco (Quercus ilex): a azinheira é a quercínea espontânea mais vulgar da região. Em Martim Tirado surge a colonizar antigos amendoais e campos de cereais, normalmente na sua forma arbustiva. Apenas se veem azinheiras altas quando em competição direta com os pinheiros. Plantei uma num sítio longe das canalizações, e vou tentar controlá-la, de modo a não crescer desmesuradamente.

Carrasco (azinheira)

Ao plantar cavei covas (mais ou menos profundas, consoante a planta), enchidas com terra nova, com menos pedras. Os rosmaninhos, prenhes de flores, plantei-os ao longo da passagem. As arbustivas maiores, logo atrás. Os "alecrins", que crescem rente ao solo, servem para cama dos canteiros.

O inverno frio e húmido está a fazer maravilhas pelas plantas novas. Mesmo as que, mais agarradas à terra, soltaram-se sem torrão, com as raízes nuas (ou mesmo danificadas, como o carrasco e as carquejas), parecem estar a safar-se.

A bela-luz, ainda a acomodar-se