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Centésimo quadragésimo dia - luz

A tia Alcina mostrou-me, orgulhosa, a criação da garniza. Onze pintos! Eram onze ovos, tão cá todos, são onze pintos!

os pintos da tia alcina

Mais um dia de trabalho intenso. Desta feita, carpinteiros e eletricistas, e eu pelo meio para complicar. Na carpintaria apenas remates. Arestas por pintar, portas de armários por aplicar, etc. Aproveitando a mão-de-obra presente, aproveitei para colocar os espelhos na casa de banho. Já para os eletricistas os desafios montavam (tanto que o serviço ficou por acabar).

trabalho contínuo

Durante a manhã insisti nos móveis. Já que não posso ainda montar as camas (tenho de as montar dentro dos quartos), comecei a montar as gavetas das já referidas camas.

O resto do dia passei-o a acompanhar os obreiros (temente da repetição de situações como a do armário de baixo, que mereceu hoje mais uma reunião de trabalho).

Quando os eletricistas deram o caso por terminado, já perto das seis, entrei eu em ação. Era hora de dar a segunda de verniz no quarto de baixo, munido de uma novidade: luz elétrica! Assim, pude trabalhar até às oito e um quarto.

primeira foto noturna. qualidade zero

Centésimo trigésimo sexto dia - retoques

E eis que se acaba o barro. Não a matéria-prima, reforçada esta semana com novo carregamento, mas o chão. Com a ajuda do obreiro, ainda a manhã ia a meio e já tínhamos terminado o quarto de baixo.

quarto de baixo

quarto de baixo

Acabado o barro, desloquei o obreiro para outras funções. Primeiro para arrumar saibro e barro longe da vista; depois para acartar terra que tinha ficado junto da eira para preencher os desníveis que o empreiteiro se recusou a tapar.

A carpintaria avançou também, mais centrada nos pormenores. As casas de banho de baixo já têm portas.

retoque finais

retoques finais

Centésimo trigésimo quinto dia - gaveta

Aparentemente, a borrasca já foi. Sem chuva, as misturas já se fazem facilmente no exterior e o trabalho segue sem percalços  Como o obreiro número dois (o número um só volta amanhã) teve de apanhar o comboio das cinco e meia, o trabalho acabou cedo, pelas quatro e meia. Se não, acabávamos o quarto. Ai não que não acabávamos.

A carpintaria seguiu o seu rumo. Vieram as portas, já lacadas e envernizadas (a parte envernizada ainda me assusta, a ver se com o tempo perde força), e os pormenores em falta são cada vez menos. Cada novidade traz consigo uma nova dificuldade, mas dá sempre para resolver.

o enigma da gaveta enviesada

Centésimo trigésimo quarto dia - chuva

Meses e meses de secura extrema (dizia-me o tio Luís: a última vez que choveu a sério foi em novembro) e tinha de cair a borrasca na última semana de obra. Tivemos de crivar e amassar o barro no corredor. Isto quando já tínhamos barro, que chegou apenas a meio da manhã. Mal chegou, acabámos a cozinha e avançámos para o quarto de baixo, o último por acabar.

debaixo da fita

Os carpinteiros também andaram por lá, a fechar armários e a desenhar portas feitas de forro. Muito a contragosto, lá montaram o exaustor da cozinha e respetivo móvel. Digo a contragosto por estes serem do Ikea.

a cozinha

trabalho de carpinteiro

Deus, tanta chuva. Bom para as castanhas e para as sanchas, sem dúvida.

Centésimo trigésimo segundo dia - abrunhos

Passei o dia sozinho, na cozinha, a acabar o chão. Só desisti quando senti as costas a dar de si. A meio da manhã, numa pausa, fui xeretar o trabalho que o carpinteiro deixara a meio, na passagem entre o quarto de baixo e a cozinha. Nas minhas deambulações, ontem, enquanto o carpinteiro ia trabalhando, lá tentava perceber o que ele estava a fazer (neste caso, no forro dum guarda-vestidos embutido). Discutimos mais do que uma vez o remate do armário, que saía enviesado. Por incúria minha, achava que era o interior do armário que estava enviesado, o que não era crítico. Com uma solução engenhosa, tudo se resolvia. Só hoje, a meio da manhã, é que percebi que não era o interior do armário que estava enviesado mas sim O CORREDOR. Sim, o corredor. Como uma das paredes de pladur tinha ficado com as medidas erradas, o carpinteiro decidiu-se a corrigir isso fazendo um corredor enviesado. Mal se nota, já me apercebi, mas não tem jeito. Terça revemos isto.

Com a ânsia de fazer com que o barro seque o mais rápido possível tentei abrir janelas, portas e claraboias. Como o tempo está a mudar, uma rabanada de vento encheu de poeira parte do barro feito hoje. Em pânico, ainda tentei vassourar (ideia estúpida), mas parece-me que como o barro já estava feito há umas horas o lixo não pegará.

a cozinha

A tia Clementina trouxe-me uvas, de manhã, e abrunhos, ao início da tarde.

as prendas da Clementina

Centésimo vigésimo sexto e centésimo vigésimo sétimo dias - linhas

Quarta fiz sete linhas. Ontem fiz cinco. Hoje fiz três e meia. Falo, como é óbvio, de linhas de barro. Fiquei a quatro de acabar o quarto de cima.

quarto de cima

Ontem tive de gerir a maralha de eletricistas que se ajuntaram na obra. Eles vinham com o objetivo específico de rematarem tudo mas, para além de não terem trazido todo o material necessário, o que faltava era de mais para só um dia. Puseram um dos candeeiros de cortiça no ar. Ficou bem.

primeiro candeeiro

armário a caminho

Hoje voltou o carpinteiro. Com as ligações elétricas no armário entre a sala e a cozinha despachadas, era hora de fechar o armário. Azar dos azares, o forro não chegou (grande surpresa), e o dia de trabalho acabou mais cedo. Passei por Freixo para ver a banca. Fiquei um pouco desagradado com o resultado, mas a culpa é só minha. Ficaram já montadas as prateleiras na passagem entre a sala e a cozinha, enviesadas, como a casa é enviesada. Ficaram bem.

armário a caminho

A tia Alcina convidou-me para almoçar. Era meio-dia e o tio Amílcar ainda não lá estava. Encontrei-o junto da passeira, a abrir ameixoas. Para o ano faço uma.

Centésimo vigésimo quarto e centésimo vigésimo quinto dias - floribella

Perdi a noção dos dias, das horas, do trabalho. Ontem, exausto, fui incapaz de escrever o diário. Fui direto para a cama. Talvez por causa disso, talvez por os dias serem todos iguais, hoje não tinha noção do trabalho que tinha feito. Pô, eu fiz isso tudo hoje? Afinal, fiz mesmo.

Começando por ontem, o carpinteiro começou o armário entre a sala e a cozinha, e logo me assustou. Quando, depois do almoço, chegou o patrão com as caixas para o armário, as medidas não batiam certo certo e o carpinteiro, isto assim não dá, então não sabiam medir bem as coisas, a conversa do costume. Deixei-o falar, o dia foi avançando e tudo se compôs. Muito mal não estaria. Ficou a face do armário virada para a sala quase acabada.

armário a caminho

No barro, acabei a primeira camada do quarto de cima e com o barro que sobrou fiz uma parte do quarto de baixo. O barro começa-me a parecer pouco. Ao fim do dia ainda fiz duas filas da segunda camada no quarto de cima (nota mental: já é tempo de os quartos terem nome).

Hoje custou-me a levantar. Na obra já o carpinteiro se azafamava, sequioso de continuar o trabalho. Em pouco tempo acabou a face da sala, e quando se preparava para fazer o mesmo na face virada para a cozinha, pedi-lhe para abrandar. Se ele fechasse tudo os eletricistas não podiam fazer as ligações. Contrariado, e depois de muito rabujar, lá se virou às escadas, autêntico jogo de construção infantil.

armário a caminho

o escadório a meio caminho

No campo do barro, e ainda para mais num dia com novidades, telefonemas, ida a Freixo e acompanhamento do trabalho do carpinteiro, fiquei surpreendido ao ver que tinha feito mais de um terço da segunda camada de barro do quarto de cima. De facto, o trabalho só não anda quando se está parado. Mesmo em dias maus como o de hoje, se levarmos o trabalho cadenciado e ligeirinho o resultado surge, brilhante.

quarto de cima

Quando estão para bater as onze começo a cheirar, como os cachorros, a ver se encontro as senhoras. Vejo-as ao longe, chego-me perto para as cumprimentar, e faço o que posso para que me convidem para almoçar. Hoje de manhã a tia Alcina lá vinha, toda curvadinha, da apanha da amêndoa. Vinha cansada, não ia fazer nada de especial para comer, ao que lhe respondi que não se preocupasse comigo, que tinha o que comer. Deve ter percebido tudo ao contrário porque pouco depois apareceu-me com um saco com um ovo cozido, um naco de pão e um chouriço, e pediu-me sigilo, com medo da reação do marido. A irmã, talvez para não ficar atrás, trouxe-me três pepinos e seis ovos ao final da tarde, para uma omolete, para além dos seis abrunhos que me trouxera antes. Com tão pouco, senti-me rico. Como a Floribella.

Centésimo vigésimo terceiro dia - escadório

Carpintaria de volta à obra. E desta é para acabar, garantem-me. Hoje começou-se pelo forro das casas de banho (que à hora do almoço já tinha acabado, como de vezes anteriores - é difícil, com as emendas e erros, medir com precisão as quantidades necessárias).

o quarto de cima

Os da aldeia já andam à amêndoa. Perguntei-lhes se devia fazer o mesmo e responderam-me que a minha era mais tardeira. Mas era olhar para a árvore. Fiquei confuso.

Ao fim da tarde passei na oficina do carpinteiro para discutir pormenores da banca e do armário entre a sala e a cozinha. A escada, parte integrante desse armário, já estava cortada.

o escadório real

Centésimo sétimo dia - fita


Primeiro dia da nossa pequena oficina informal de terra batida. Somos quatro arquitetos, prontos para tudo. Bater saibro, domar osgas, apanhar abrunhos em ruínas. Hoje, como começamos apenas perto das cinco da tarde, deu apenas para pôr fita no quarto de cima e na sala. Os 36° da última sexta fizeram todo o tipo de fita descolar, mas hoje, com um dia fresquinho e com fita-cola de papel tesa tudo se resolveu.

o Hugo numa pausa
Os carpinteiros passaram o dia na obra e deixaram tudo pronto para a terra, e pregaram mais uns barrotes para o armário entre a sala e a cozinha.

Amanhã somos cinco. Aí ninguém nos para.

Centésimo sexto dia - batman

Talvez o dia mais difícil de passar até agora. Disse-me um taxista conhecido, em Freixo, que estariam 36°. E quando o sol surgia por detrás das nuvens. Deus meu.

O dia comecei-o cedo, como já é hábito. Tinha de descarregar o carro, em parte cheio de material para a terra batida, por outro lado carregadíssimo com o essencial da loiça sanitária para a casa. Testei também uma mangueira nova, ligada à torneira da banca dos meus avós. A mangueira servirá para humedecer o saibro e para molhar o barro, a usar no chão. 

Os carpinteiros começaram com o reguado (para conter a terra batida) no quarto de cima. Como eu esperava que as réguas fossem de contraplacado (1,8 centímetros de espessura), disse ao carpinteiro que podia cortar as réguas transversais, que serviam como bitola, com 18 centímetros, e as compridas vinham com folga e acertavam-se na obra. Para minha surpresa, as réguas eram de madeira maciça e tinham mais de 2 centímetros de espessura. Ao juntar-se as réguas todas não batia certo, portanto todas as bitolas tiveram de ser acertadas um milímetro. Como em tudo na vida, só custa à primeira.

o Carlos em ação

desfasado

quarto, sala, cozinha. assim se faz uma casa

Com o trabalho a avançar a bom ritmo (e como ninguém me fez o almoço em Martim Tirado), rumei a Freixo, para rango pago, uma máquina de lavar roupa para escolher e uma incrível exposição de arte quinhentista para visitar. Não sei quem se lembrou de inventar que teria sido Grão Vasco a pintar as telas (que fazem parte do retábulo da Matriz e foram recentemente restauradas na biblioteca, já que os freixenistas fizeram barulho e não deixaram sair as telas), mas a exposição vale bem a pena. Aconselho a visita agora, que as telas estão à altura dos olhos, porque em setembro voltam ao retábulo, e aí só de binóculos.

(não é Grão Vasco)

Ao voltar, uma contrariedade. A luz falhou, a vizinha não deixava ligar à casa dela, e o trabalho dos carpinteiros ainda mais atrasado. Sempre a apagar fogos, lá convenci a vizinha a emprestar a luz até ao fim do dia, e chamei o piquete da EDP para o conserto, concretizado ao fim da tarde. O impasse traduziu-se no trabalho inacabado.

Também por lá passou o senhor do gás, que selou o tubo furado na semana passada e o senhor dos materiais de construção, que me trouxe o barro. O saibro chega amanhã. 

Comecei a proteção da madeira. Da fita-cola de eletricista (um flop), passei para fita-cola de papel, mais apropriada à madeira mas ligeiramente mais larga. Tive de tirar o excesso ao X-ato, o que torna o processo mais trabalhoso. E ainda estou para ver se a fita-cola de papel não salta como saltou a de eletricista.

Pedi ao Zé Manel que me mostrasse um amendoal que o meu pai não herdou e que estaria ao abandono. E É GIGANTE. E eu que achava que as minhas quinze amendoeiras eram muitas. Ali haveria mais de cem, todas por limpar, o terreno por arar, silvas a prosperar. Talvez algum dia lhes possa dar a devida atenção.

Lá fora ouço o morcego, sempre a chiar. Talvez por isso não tenha insetos no quarto. Tenho o batman do meu lado.

Nonagésimo nono dia - alterações

Telefonou-me agora o carpinteiro, preocupado com o fazer e o refazer. Logo eu. Tanto nesta obra que nasceu torto e torto ficou. E o arquiteto mudo e calado. Agora o forro das casas de banho, que demorou meses de trabalho com os montadores do pladur, medidas vistas e revistas para que agora fosse só montar. Tranquilizei-o: que o trabalho se acabava rápido; que o refazer não eram 'pequenos pormenores' mas coisas essenciais; e que, acima de tudo, os erros não eram meus. Continuamos amigos, espero, mas negócios são negócios.


planeando
(foto)

O dia até estava a correr bem. Na passada sexta, como o mdf acabou, os carpinteiros passaram para a casa de banho de baixo. Sem arquiteto na obra. Erro crasso. Sem acompanhamento, todo o planeamento vai para o galheiro. Mesmo. Mesmo com indicações, confirmações, verificações. O caminho mais rápido é sempre quando o arquiteto está de férias.

planeando, sai bem
(foto)

Isto na carpintaria. No pladur, trabalho em pleno. Hora de fechar as janelas, fechar as juntas com fita e massa. O empreiteiro não apareceu.

a seteira dos Baldo
(foto)

Bota cá as telhas, ordenou-me, do alto do cardanho, o senhor Carapuça. Em pouco tempo fez uma estrutura de madeira em cima do antigo galinheiro da tia Baldo. Com as telhas Marselha que foram sobrando das demolições anteriores lá fomos restituindo ao cardanho (em forma de azeiteira, segundo o tio Amílcar) o seu orgulho telhar.

a casita da Fidalga
(foto)

Continua o calor abafante. Sinto ainda algum stress da troca de palavras. Estou a tentar abatê-lo cozinhando para muita gente.

Nonagésimo oitavo dia - perfeição

Visita, já esperada, vinda de longe. O calor continua o seu reinado efémero. Os carpinteiros começaram as paredes e tetos das casas de banho, com o mdf hidrofugado lacado. À primeira o acabamento pareceu-me perfeito de mais; ao montar, com a precisão e a arte do Carlos a eliminar problemas sucessivos, ainda mais perfeito ficou. Os hóspedes que avaliem.

sem rasto do pladur
(foto)

Nonagésimo quarto dia - rodapé

Cheguei no comboio do almoço. A seguir a Moncorvo sucediam-se os troncos laranja de sobreiros, frescos da passagem dos descortiçadores. O calor aperta. Os carpinteiros chegaram pouco depois de mim. Primeiro tratámos de comprovar que o arquiteto percebe pouco da arte. Pedi-lhes para fazerem uma forma de madeira para que o empreiteiro se pudesse orientar ao fazer o rodapé. O Carlos convenceu-me que, para além de ser de difícil instalação, o rodapé não ia servir de nada. Amanhã vê-se.

reguando
(foto)

Passei por Freixo para tratar de mais burocracia. Comprei também o ralo e o sifão, para que ao fazer a pavimenta se deixe essas peças imbutidas.

Nonagésimo segundo dia - fungicida


Passei o dia inteiro a olhar para os carpinteiros a trabalhar e meio dia a tentar corrigir um erro que vinha de trás. Habituado a pensar com o Autocad e uma calculadora à frente, a ausência destes e a presença dos carpinteiros desligou-me o cérebro. Só mais tarde, em recolhimento (e com o telemóvel a servir de calculadora), lá dei a volta à coisa. O essencial das réguas de vinte centímetros ficou feito.

o Carlos planeia. Nem todos o fazem
(foto)

O pulverizador do tio Aníbal voltou à vida! Com fita preta a vedar uma fuga no tubo (não resultou), já com a mistura feita (5 litros de água com menos de uma colher de sopa de calda bordalesa - sapec, 20% de sulfato de cobre), pulverizei as parreiras e os pessegueiros. E, já que estava com a mão na massa, os olmos. Se o que os mata é um fungo, nada melhor do que um fungicida.

O Zé Manel, sorridente, trouxe-me um pingente à mão. A mulher diz que é São Cristóvão. É consensual que  é antigo. Os especialistas o dirão.

pingente achado na ribeira
(foto)

Nonagésimo primeiro dia - penúltimo marco


Mais sono que discernimento e cruza-se uma raposa à frente do carro. Durante o dia, a sem-vergonha.

Cheguei já os carpinteiros se atarefavam. Com a obra tão avançada já pouco queda por fazer. Verifiquei se o trabalho dos pedreiros estava feito - a picagem do chão das casas de banho, as pedras tiradas do quintal. Tudo feito. Os carpinteiros lá iam descarregando o mdf, também a banca de pedra do Poio. Começava a azáfama de colocar as réguas na parede de acordo com o desenho. As impoderáveis são tantas que só profissionais capazes e um bom acompanhamento garantem bons resultados finais.

 primeira régua, sempre a mais complicada
(foto)

Já depois do almoço dei na cabeça do carpinteiro mais novo. As réguas cortadas por ele ficavam lascadas, enquanto que as cortadas pelo patrão estavam perfeitas. Tu não vês que o mdf fode os discos? Então desde a manhã para a tarde? Ah pois é. Afinal não era nada. Confrontando com o trabalho da tarde dele e do outro carpinteiro, logo percebemos que o disco era desculpa para a falta de jeito. O calo ganha-se. Parte das coisas podia fazê-las a dormir, dizia o Carlos.

o Bruno, fantasma
(foto)

Voltei agora do pinhal. Em jeito glorioso, um pouco antes de voltar, decidi cortar pelo matagal, de baixo para cima, orientando-me com a segurança da fronteira entre o meu prédio e o vizinho, claro mais abaixo, impercetível em cima. Queria perceber se a desmatação a que me tinha dedicado era fora ou dentro do meu prédio. Percebi que estava a desmatar no limite, por isso vou continuar apenas para a esquerda. Imbuído da genica que nunca me falta no meio do monte, continuei na linha reta imaginária para o outro lado do caminho, onde me asseguraram existir uma nesga de pinhal que me pertence. Já tinha avançado imensas vezes para lá do caminho mas nunca achara os marcos certos, mas outros marcos, de outros prédios. E hoje, a poucos metros de onde tenho trabalhado, lá estava o malfadado marco, dois na realidade, a marcar o remate do meu prédio. Foi bom de ver.

O Zé Manel chegou agora de regar. As tardes longas dão para muita coisa. Na orelha traz um ramito. Digo-lhe. Isto? É para afugentar as moscas. As moscas? Esta hortelã cresce lá em baixo na ribeira, e tendo isto já as moscas não se chegam.

Septuagésimo nono dia - foicinha


O empreiteiro não veio, temente da chuva. Vim eu. Com as poucas pedras que sobraram fechei grande parte do lajeado, ficando para amanhã o cimentar.

o lajeado, a caminho da conclusão
(foto)

Chaves: a notícia do dia. Pela primeira vez, depois das paredes, depois do telhado e das clarabóias, chegaram janelas com ferrolho e portas com fecho. Já não há cá bichos nem ladrões a entrarem por aqui adentro. Consequência disto, achei a casa mal trancada e voltei lá agora. Tudo mais trancado que o Banco de Portugal.

fechadinha
(foto)

Na ânsia de ferrolhos e fechos reparei no buraco para o fechador. Muito acima do sítio certo. O modelo que escolhemos (e qualquer outro que escolhêssemos) batia, por fora, no postigo, e por dentro, na janela. Coisa que eu percebi logo no primeiro desenho, e que o carpinteiro sabia mas esqueceu. Só hoje, confrontados com o erro, é que o carpinteiro me explicou que não podia furar a travessa, por isso pôs a fechadura por cima da travessa. Hora de telefonar ao fornecedor a anular a encomenda dos puxadores, a trocar por bolas.

Passada a meia-hora, alcei a foicinha bem alta no ar e ala que se faz tarde. Contrariando todos os que me diziam 'o que faz falta aqui é herbicida - mainada', comecei eu próprio a fazer o serviço do herbicida. Cortei tudo o que fosse mato alto (de tudo o que cortei, só reconheci cardos e aquela plantinha que também deita flores roxas, olhos-de-gato) e deixei ficar o mato mais baixo (muitos malmequeres). Desatei a cortar sem nada programado, ainda sem saber o que cortar nem o que fazer ao que cortasse. Ao ver os molhos a amontoarem-se decidi dar uso à palete e fiz uma espécie de compostor, junto a uma porta de chave perdida.

o primeiro compostor de Martim Tirado
(foto)

O senhor Acácio, filho do tio Amílcar, trouxe-me uma mão cheia de cerejas. As primeiras do ano. Infelizmente, ainda não chegou o tempo delas.

Septuagésimo terceiro dia - portas e janelas


Isto frusta. Tanto para fazer e arrumar e eu sem poder sair, preso pela chuva dentro de casa. 

Os carpinteiros chegaram de manhã. E com eles portas, janelas e portadas. A dificuldade do dia passou por ajustar portas e janelas à imperfeição das pedras (e à mente alterada do arquiteto, que só inventa). A minha presença serviu para verificar pequenos erros, a corrigir depois, e a atravessar-me à frente deles todos. Só para que não se esqueçam de quem manda aqui.

Portas roubadas a um turismo em Espanha
(foto)

Broca mole em pedra dura
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Portas do quarto de baixo e da cozinha
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Janelo dos quartos
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Os montadores chegaram pelas duas, depois de telefonemas e confusões. Pu-los a fechar paredes. Tenho de alegar urgência para os ter na obra. Tenho de os ter a trabalhar continuamente senão o muito que falta fica ainda mais atrasado.

Mais tarde chegaram os do ar condicionado. Talvez para a semana avancemos com mais tubos.

Amanhã há a festa. Com chuva, mas festa.

Antes da festa
(foto)

Quadragésimo sexto dia - construção em madeira

dia-a-dia: isolamento telhado acima

Sinto que devo perder algum tempo a descrever a carpintaria, que é uma arte nobre, com o Bruno como um dos seus artistas principais. O Bruno, o Carlos e o Bruno júnior. A montagem dos caibros (as vigas inclinadas que sustentam o telhado) e dos cúmeos (as vigas da cumeeira do telhado) foi feita na semana passada, tomando as duas asnas metálicas como referência. Como a altura dos cúmeos e a inclinação dos caibros (os homens chamam-lhes caibrios) era orientada pelas asnas, a parte de baixo (a casa tem dois telhados) foi canja. Já a parte de cima, com apenas uma asna metálica, foi mais complicada. Para construir a asna de madeira a meio do vão foi necessário fazer um molde junto à asna metálica. Depois de colocada a asna de madeira, foi fácil distribuir os cúmeos e os caibros pela cobertura. A viga horizontal da asna só foi colocada esta semana, ficando a colocação dos varões dependente de eu os comprar amanhã, em Carviçais.

Hoje, pela primeira vez, fui pedir a um dos velhos para me ajudar com as podas. Neste caso ao tio Amílcar, para as parreiras (vides). Primeiro para as duas dentro da curralada da tia Baldo. A ideia, já antiga, é de fazer uma ramada (aqui chamam-lhe latada), ideia que muito agradou ao Amílcar. E retoma-se o uso original que o tio Baldinho imaginara para os menires, o de sustento dos arames que seguram a ramada. O tio Amílcar sugeriu que se encaminhasse uma das parreiras para pingar sobre a porta. Bestial. A seguir demos um jeito nas parreiras no quintal dos meus avós.

Quadragésimo terceiro dia - beiral

dia-a-dia: duas águas

A pedido do empreiteiro, o carpinteiro trouxe umas placas de aglomerado de cortiça, para uns testes, e uma clarabóia, a meu pedido, para vermos como funcionam. Com o aglomerado conseguiu perceber qual a altura definitiva do telhado, de maneira a colocar as lajetas do beiral. Vão ficar lindas. A conversa ainda durou um pouco sobre a vontade do empreiteiro e carpinteiro em fazer um 'beiral tradicional português', ao que retorqui, quero é um beiral tradicional de Martim Tirado. Apontei para a casa do meu avô e disse, quero igual àquilo. Ainda insistiram, é que à portuguesa fica mais bonito, mas ficou por aí.

é pena que não fique à vista

Com as claraboias restava perceber como funcionavam, e como encaixavam nas telhas, e na estrutura de madeira. Com as telhas vai ser complicado - deve implicar corte de telhas, mas vai ter de ser. O sistema Velux, com o qual nunca tinha convivido diretamente, é muito semelhante ao do Ikea, e foi sem surpresa que descobri que são ambas suecas. É óbvio.

é ao contrário


As telhas é que me assustaram. Colocando-as sobre a subtelha, o espaço entre capas é enorme e a telha-canal fica muito mais à vista do que esperava. E como a face interior da telha não é pintado, fica o telhado às riscas. Os meus piores medos confirmaram-se. Tenho de arranjar solução para isto.

A carpintaria segue a todo o vapor. Hoje acabamos os caibros, e para segunda ficam os testes com as claraboias. Um pequeno stress durante a manhã - um erro de centímetro e meio, que na altura me pareceu um quilómetro. A solução do carpinteiro pareceu-me milagrosa: dividir o mal pelas aldeias, e transformar um erro entre caibros de centímetro e meio por dois erros de sete milímetros. Sete milímetros? Pfff.

foi o Bruno que captou o momento

O empreiteiro fica com um dos cachorros. Com o único macho. Por isso, ficam três fêmeas para dar. Alguém?