Mostrar mensagens com a etiqueta madeira. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta madeira. Mostrar todas as mensagens

Terceira semana de outubro

Tirei algumas fotos, para ter a certeza de que era verdade. Aqui estão.

Zona de refeições

A cozinha

Zona de refeições

Zona de refeições

Centésimo trigésimo sexto dia - retoques

E eis que se acaba o barro. Não a matéria-prima, reforçada esta semana com novo carregamento, mas o chão. Com a ajuda do obreiro, ainda a manhã ia a meio e já tínhamos terminado o quarto de baixo.

quarto de baixo

quarto de baixo

Acabado o barro, desloquei o obreiro para outras funções. Primeiro para arrumar saibro e barro longe da vista; depois para acartar terra que tinha ficado junto da eira para preencher os desníveis que o empreiteiro se recusou a tapar.

A carpintaria avançou também, mais centrada nos pormenores. As casas de banho de baixo já têm portas.

retoque finais

retoques finais

Centésimo trigésimo quinto dia - gaveta

Aparentemente, a borrasca já foi. Sem chuva, as misturas já se fazem facilmente no exterior e o trabalho segue sem percalços  Como o obreiro número dois (o número um só volta amanhã) teve de apanhar o comboio das cinco e meia, o trabalho acabou cedo, pelas quatro e meia. Se não, acabávamos o quarto. Ai não que não acabávamos.

A carpintaria seguiu o seu rumo. Vieram as portas, já lacadas e envernizadas (a parte envernizada ainda me assusta, a ver se com o tempo perde força), e os pormenores em falta são cada vez menos. Cada novidade traz consigo uma nova dificuldade, mas dá sempre para resolver.

o enigma da gaveta enviesada

Centésimo trigésimo quarto dia - chuva

Meses e meses de secura extrema (dizia-me o tio Luís: a última vez que choveu a sério foi em novembro) e tinha de cair a borrasca na última semana de obra. Tivemos de crivar e amassar o barro no corredor. Isto quando já tínhamos barro, que chegou apenas a meio da manhã. Mal chegou, acabámos a cozinha e avançámos para o quarto de baixo, o último por acabar.

debaixo da fita

Os carpinteiros também andaram por lá, a fechar armários e a desenhar portas feitas de forro. Muito a contragosto, lá montaram o exaustor da cozinha e respetivo móvel. Digo a contragosto por estes serem do Ikea.

a cozinha

trabalho de carpinteiro

Deus, tanta chuva. Bom para as castanhas e para as sanchas, sem dúvida.

Centésimo trigésimo segundo dia - abrunhos

Passei o dia sozinho, na cozinha, a acabar o chão. Só desisti quando senti as costas a dar de si. A meio da manhã, numa pausa, fui xeretar o trabalho que o carpinteiro deixara a meio, na passagem entre o quarto de baixo e a cozinha. Nas minhas deambulações, ontem, enquanto o carpinteiro ia trabalhando, lá tentava perceber o que ele estava a fazer (neste caso, no forro dum guarda-vestidos embutido). Discutimos mais do que uma vez o remate do armário, que saía enviesado. Por incúria minha, achava que era o interior do armário que estava enviesado, o que não era crítico. Com uma solução engenhosa, tudo se resolvia. Só hoje, a meio da manhã, é que percebi que não era o interior do armário que estava enviesado mas sim O CORREDOR. Sim, o corredor. Como uma das paredes de pladur tinha ficado com as medidas erradas, o carpinteiro decidiu-se a corrigir isso fazendo um corredor enviesado. Mal se nota, já me apercebi, mas não tem jeito. Terça revemos isto.

Com a ânsia de fazer com que o barro seque o mais rápido possível tentei abrir janelas, portas e claraboias. Como o tempo está a mudar, uma rabanada de vento encheu de poeira parte do barro feito hoje. Em pânico, ainda tentei vassourar (ideia estúpida), mas parece-me que como o barro já estava feito há umas horas o lixo não pegará.

a cozinha

A tia Clementina trouxe-me uvas, de manhã, e abrunhos, ao início da tarde.

as prendas da Clementina

Centésimo trigésimo primeiro dia - rachadelas

Engarrafamento na Quinta dos Baldo: uma camioneta de quinteiros que andavam à amêndoa; do picheleiro, que veio montar o pio (ou ontem ou anteontem ficou quase pronta a banca, esqueci de escrever); do carpinteiro; dos do pladur, que vieram lixar as paredes e dar o primário.

o senhor Gaspar a despachar a banca

A meio da manhã lá lancei a piada de sempre, já testada com os carpinteiros. Já está tudo lixado? Sim sim. Sabes que na minha terra não dizemos 'já está tudo lixado', dizemos 'já está tudo f*****'. Piadinhas do patrão. Lá se riram, a contragosto.

antes de pintar, vamos 'lixar' as paredes

Pudera. Passaram a manhã a levar nas orelhas. Ponham plástico na sala toda. Olha o taquinho por baixo da escada. Não ponhas o pé aí que esse barro ainda não está envernizado. De facto, o barro envernizado apenas com uma camada ganha uma resistência que eu não antevia no barro por envernizar. Devia ter envernizado a parte onde andaram os carpinteiros na semana passada. Tinha poupado muitas rachadelas.

no quarto de cima, entre pinturas

Quanto ao trabalho do dia, travado pela evolução dos pintores, pouco fiz. Acabei a primeira de barro na cozinha e ao fim da tarde fiz umas filas da segunda de barro, também na cozinha. O barro, aplicado em goma, totalmente saturado de água, é a melhor forma de ser trabalhado. Cada vez sai mais perfeito.

Com as portas da casa de banho de cima colocadas há mais de um dia é que detetei mais um 'erro do arquiteto', como gosta de enfatizar o carpinteiro. Ao desenhar, pressionado por ele, os aros das portas no chão, não tive o discernimento de verificar se estava a olhar bem para o desenho se este não estaria rodado 180°. Aconteceu a segunda hipótese. Ainda pensei na possibilidade de pedir que retirassem os aros, mas desisti ao perceber o atraso que isso constituiria e ao verificar que assim, rodado 180°, funciona igual. Raio do arquiteto que não sabe o que quer.

entre a sala e o quarto

Quinquagésimo quarto dia - enxerto

dia-a-dia: manhã cedo
Os dias grandes são assim, preenchidos. Ontem, não sei se do vinho fino se da primavera que aí vem, prescindi de parte dos prerrequisitos de sobrevivência em meio gelado e dormi regalado. De manhã (e ao longo do dia), percebi facilmente, ao tirar peças de roupa sucessivas, que a primavera chegou. Não chegou foi às amendoeiras. A única verdadeiramente florida de Martim Tirado tinha em cima todas as abelhas da aldeia, cada uma delas requerendo para si a atenção da árvore.

a única amendoeira florida de Trás-os-Montes
Tinha a manhã cheia de compromissos. Chegaram comigo os pedreiros, para começar os muros de baixo, e o carpinteiro, para fechar o outão. A meio da manhã chegava o senhor do pladur, para assinarmos contrato e discutirmos pormenores. Tanto o compromisso que gastei meia caixa de fósforos e uma manhã inteira para perceber que os meus talentos de pirómano ainda estão por provar. Isso e a verdura dos ramos da roseira.

Enquanto a piromania ia e vinha, na obra o carpinteiro fechava o outão. A ideia dos casqueiros veio dum cardanho nas primeiras casas de quem entra em Martim Tirado, em que uma das paredes tinha em lugar de pedra, casqueiros, largos. Meses depois, chegou o dia de botar em obra. O carpinteiro já os trazia cortados, bastando apenas cortar as pontas com o ângulo e a medida certa. Trouxe também uma cantoneirazinha para que a base dos casqueiros ficasse distanciada da caleira, e porcas para distanciá-los verticalmente da chapa. Para que a água não fique parada entre a madeira e a chapa, sinónimo prematuro de apodrecimento da madeira. Tudo pormenores falados nos últimos meses e ultimado por telefone na última semana. Colocados os primeiros, surgiu outra questão: a espessura média dos casqueiros era de cinco centímetros, uns cinco centímetros abaixo dos dez centímetros prometidos. Ficou o compromisso de cortar os casqueiros um centímetro mais baixos, e colocar sobre estes uma régua que suportasse o beiral. Que foi colocada depois do almoço. Prueba superada. Ficou bonito, e eu fiquei com vontade de o mostrar a todos.

segunda tentativa: o parafuso entra por fora
Já com os pedreiros não foi tão fácil. Falei-lhes da minha vontade de fazer uma passagem entre o muro e a casa. Passado algum tempo encontraram uma boa laje (uma das ombreiras da porta original) do outro lado do terreno. Rogaram pragas que era muito longe e tal mas logo surgiu a solução - arrastar a pedra usando o camião como reboque. Como ombreira reutilizaram outra pedra, mais alta do que o muro. Um expediente que os antigos usavam muito. Quanto ao muro em si, tratava-se duma reconstrução / arranjo do muro existente. Expliquei-lhes que se queria uma alvenaria mais tosca que a das paredes das casa, e que o topo tinha de ser capeado (palavra do senhor António) com pedra que cobrisse toda a largura do muro, como era tradicional. A coisa está a compor-se.

o muro, ainda no início
Com o outão acabado e o muro encaminhado, tratei de preparar mais uma ida ao pinhal. Já sem as mariquices do gps. Primeiro arranjei umas varas compridas e direitas que se vissem ao longe e pintei-lhes a base com spray vermelho. Cheguei-me à Clementina e perguntei-lhes qual o passo seguinte. Que me iam ver dum ferro, mas que o lado a enterrar era o outro. Burro. Pintei o lado certo das varas, afiei as bases com a machada e enfiei-me monte adentro, com as varas e o ferro do Amílcar.

como não marcar um pinhal
E lá andei. Onde o marco era claro enterrei uma vara, onde devia estar um marco e sobravam pedras soltas reinventei um marco. Para a semana verifico tudo com o tio Silvério, mestre nestas serranias. Seguindo o exemplo do Amílcar fui abrindo alas entre os marcos, de modo a abrir o ângulo de visão entre eles, arrancando estevas e pinheiros malformados. O resultado computa. Em março entra a motosserra.

O enxerto já lá está, no cerejal, disse-me a Clementina, relembrando-me de regá-lo e de lhe colocar mais terra.

enxerto de cerejal

Quadragésimo primeiro dia - madeira


dia-a-dia: gulp. madeira!?

Nem chuva nem neve nem greves - chegou a madeira à Quinta dos Baldo. Antes falharam as paredes, por acabar; depois foram as hastes, por aplicar; em dezembro foram as férias dos carpinteiros, por cumprir; ontem foi a chuva, que não chegou a vir. Hoje acabaram-se as desculpas. De manhã cedo saí de Martim Tirado com o empreiteiro e o carpinteiro e um camião cheio de madeira estavam a chegar. Quando voltei já os caibros se alinhavam à volta das paredes, como que a ganhar coragem para trepar e tornar-se telhado. Passámos o resto do dia a montar caibros e a rever medidas. Esta é uma espécie de felicidade, certamente, misturada com ansiedade. Um pouco antes de ir embora, já quase não havia luz, e ainda olhava os caibros.

o primeiro caibro

a carpintaria é uma arte marcial


concentradíssimo