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Octogésimo quarto dia - cereja


Os dias avançam, a obra também, tentando manter o ritmo. Embróglios terríveis levaram-nos a trazer os técnicos do ar condicionado do litoral para o interior. Gente boa de Famalicão que não conhecia Trás-os-Montes e que comeram cerejas e partilharam um pedacinho das suas vidas comigo. Foi ao fim da tarde, com o serviço despachado. Eu colhia cereja com os velhos, para comer à mesa e para compota, e o senhor do ar condicionado, o patrão, se juntou a nós. Logo os velhos o convidaram a comer connosco, arranjando-lhe um saco para levar um pouco de Trás-os-Montes de volta para casa. Não aceitaram dinheiro pelas cerejas. Os dois dias de granizo, se bem que intervalados, inutilizaram parte da cereja e deixaram a outra parte amachucada, imprópria para venda, segundo eles.



Trás-os-Montes é a cereja, a castanha e a uva, mas mais importante que tudo isso são as pessoas. Que são de estimar.

Os pedreiros acabaram o serviço ontem, nem os cheguei a ver. Fica a obra.

o canto do galinheiro
 (foto)

os cardanhos
(foto)

Septuagésimo nono dia - foicinha


O empreiteiro não veio, temente da chuva. Vim eu. Com as poucas pedras que sobraram fechei grande parte do lajeado, ficando para amanhã o cimentar.

o lajeado, a caminho da conclusão
(foto)

Chaves: a notícia do dia. Pela primeira vez, depois das paredes, depois do telhado e das clarabóias, chegaram janelas com ferrolho e portas com fecho. Já não há cá bichos nem ladrões a entrarem por aqui adentro. Consequência disto, achei a casa mal trancada e voltei lá agora. Tudo mais trancado que o Banco de Portugal.

fechadinha
(foto)

Na ânsia de ferrolhos e fechos reparei no buraco para o fechador. Muito acima do sítio certo. O modelo que escolhemos (e qualquer outro que escolhêssemos) batia, por fora, no postigo, e por dentro, na janela. Coisa que eu percebi logo no primeiro desenho, e que o carpinteiro sabia mas esqueceu. Só hoje, confrontados com o erro, é que o carpinteiro me explicou que não podia furar a travessa, por isso pôs a fechadura por cima da travessa. Hora de telefonar ao fornecedor a anular a encomenda dos puxadores, a trocar por bolas.

Passada a meia-hora, alcei a foicinha bem alta no ar e ala que se faz tarde. Contrariando todos os que me diziam 'o que faz falta aqui é herbicida - mainada', comecei eu próprio a fazer o serviço do herbicida. Cortei tudo o que fosse mato alto (de tudo o que cortei, só reconheci cardos e aquela plantinha que também deita flores roxas, olhos-de-gato) e deixei ficar o mato mais baixo (muitos malmequeres). Desatei a cortar sem nada programado, ainda sem saber o que cortar nem o que fazer ao que cortasse. Ao ver os molhos a amontoarem-se decidi dar uso à palete e fiz uma espécie de compostor, junto a uma porta de chave perdida.

o primeiro compostor de Martim Tirado
(foto)

O senhor Acácio, filho do tio Amílcar, trouxe-me uma mão cheia de cerejas. As primeiras do ano. Infelizmente, ainda não chegou o tempo delas.

Décimo sexto dia - cerejas a maturar

dia-a-dia: rabo não identificado

Dia sem assunto. O picheleiro ainda não respondeu, os pedreiros avançam, devagar. A mancha de parede feita na última semana tem menos pedras perfeitas e mais falheiras, mas ficaram a faltar as pedras compridas. Relembrei-o ao Paulo, que lá foi partindo algumas à minha vista para mostrar o quão difícil é parti-las para uma parede de apenas 35 centímetros. Prometeu-me que iam pôr mais. Disse-lhes que podiam usar a pedra do muro, que é para vir abaixo de qualquer maneira. Eles preferem desmontar primeiro o palheiro onde o meu avô acomodava os burros, já em parte caído.

a parte mais recente não me agrada

Trouxe dois sacos de cerejas, já carnudas e escuras, quase no ponto.