Quinquaségimo sexto dia - a flor?


dia-a-dia: vista do caminho
Pelas nove, em Campanhã, pensei, por largos minutos, que ia ficar em terra. O motivo era a greve dos maquinistas a horas extra, e dizia-me o senhor da bilheteira que corria o risco de me ficar pela Régua. Isto uma semana depois de ter optado pelo comboio como meio de transporte preferencial. Ela há coisas. Fiz mover a minha rede de contactos e lá surgiu a confirmação de que sempre havia comboio, mas que devia evitar o último e o primeiro comboios do dia. A greve é até dia 16. Almocei em Moncorvo (no aconselhável Lagar) e segui para Martim Tirado, onde os senhores do pladur já laboravam desde a manhã. A trabalharem quase sem indicações, tinham já feito a estrutura à volta das janelas, trabalho a fazer apenas com as janelas acabadas. De resto, falei-lhes das pontes térmicas a evitar e siga com o trabalho.

Os pedreiros já trabalhavam no muro de baixo. Já só lá andam o Paulo e o senhor António. O Hugo deixou tubos e fossa tapada e o terreno limpo. Fez mais do que a máquina. Também ajeitaram o muro da entrada. Limparam o topo, acertaram-no e encheram todas as brechas, incluindo a que sobrou entre o muro e a casa. As telhas são para voltar ao topo do muro e a parreira é para tornar a espraiar-se sobre ele e a espreitar os visitantes, mas enquanto isso não vem o muro parece-me outro, pouco familiar.

muro velho, cara nova
Procurei então o tio Silvério, marido da tia Rosa, irmã do meu avô e até então incontestado mestre das serranias. Ao ver-me chegar pôs-se fidalgo e comunicou-me que tinha de ir botar as cabras, que não podia ir comigo. O defeito é meu, mal habituado à presteza dos vizinhos. Muito a custo lá consegui sacar-lhe um compromisso: amanhã depois do almoço lá iria mostrar-me os pinhos. E lá disse, à mistura de muitas outras coisas que não percebi, que alguém tinha mexido nos marcos. À falta de Silvério recorri ao tio Amílcar, igualmente afamado nos idos da serra. Afinal, se a minha sorte não partia com as dele pouco faltava. Era o homem certo para o caso.

A missão do dia consistia em confirmar a posse dos marcos que sinalizei com as varas (2) e confirmar a preexistência dos marcos que inventei (outros 2). Os inventados não tinham qualquer validade histórica, como já esperava, e os outros dois eram mesmo meus. Os olhos treinados do Amílcar toparam mais três marcos, que prontamente limpei e sinalizei com varas. Os marcos obedecem a códigos visuais muito concretos, e só o vandalismo ou a caruma os fazem mentir.

A Fidalga está fraquita. A Clementina diz que desde o parto que vai largando um líquido, já quase sem sangue mas ainda assim preocupante. Começa a cair-lhe o pelo e não engorda. Parece sempre em agonia.

A flor da amendoeira não vingou. A chuva do fim de semana, que parecia pouca, deixou-as apenas a caminho da floração, mas nada que encante a vista. Das minhas só esta, que nem sabia amendoeira, foi capaz de cumprir a tradição.

afinal há flor

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