Décimo primeiro dia - de trator

dia-a-dia: eu sei que fotografei uma casa

Porto. Vila Real. Nada como o Porto de manhã para dar valor a uma qualquer terra pequena. A seguir Romeu, por curiosidade de conhecer o Maria Rita, restaurante de 'cozinha regional'. A verdade é que a terra é adorável, castiça, verde, com lojinha a vender não sei ainda o quê mas com uma misteriosa loira a guardar-lhe a porta, e também é verdade que a entrada no Maria Rita é castiça, com a sua guarda a imitar um rústico que nunca existiu, e também a placa, recorte chinês, mas mal entrei percebi que ia ao engano. Mais do que uma sala, com requinte, cada talher a ocupar o seu espaço em mesas esmeradas. Aproveitei que não estava gente para espreitar o menu, verificar que não era para mim e fazer o meu almoço de trabalho no Poças, em Bragança, que já conhecia de outras encarnações.

Seguindo para sul, deixei que o GPS guiasse as minhas guinadas, por estradas de montanha até Vimioso, e daí para Mogadouro. Em Vale de Porco parei para visitar o lugar de um antigo projeto meu, um discreto parque de merendas sob uma curva de choupos na bordadura de um lameiro, abençoado por uma ermida de corte fino. O meu angelical projeto foi substituído por uma combinação banco/mesa que os próprios Flintstones não desdenhariam (que teve o condão de limpar as pedras soltas pela paisagem) e uma espécie de pavilhão industrial 'rústico' para churrascos igualmente industriais. A chuva e o vento correram comigo, e assim não tive de dar explicações à memória.

Ao fim da tarde visitei a obra, já com um início de alvenaria feito. Não está mal. O pedreiro é bom. Amanhã afina-se. Diziam-me que o Zé Manel ia ver as colmeias e lá está ele com a botija de gás no trator, nos seus recados. Afiambro-me a uma boleia e lá vamos os dois, o Zé Manel a falar-me do perigo da condução descuidada dos tratores e eu enganchadíssimo por cima da roda (nem falei dos freixos que vi ao longo dia. aqui nas Quintas não, só os sobreiros em flor). Mostrou-me a horta, sobre o ribeiro, as oliveiras a meia-encosta e as colmeias quase no topo. Mas escondidas do vento norte, que elas não gostam. Não gostam mais saem de manhã na direção do norte, observa um Zé Manel deliciado com a coisa. Gosta mesmo muito delas. E quando elas desaparecerem é que vai ser o diabo para o resto da natureza. À volta das colmeias plantou alecrim, elas comem normalmente mais é a arçã, mas o alecrim deita uma flor muito cedo e elas gostam da flor. Dá um mel clarinho, bom, não é como o do do eucalipto, escuro. Mesmo no topo plantou centeio. Falei-lhe do problema das aves da rapina que já não têm coelhos para caçar porque já não há cereal. Ele agacha-se e mostra-me as caganitas de coelho. Estão salvas as águias.

o Zé Manel diz: isto é centeio, isto é uma oliveira

Para rematar um dia bonito trouxe cacos, presumivelmente de ânforas e telhas romanas. Ao jantar falámos da história das Quintas. Quando puder publico aqui o estudo co-feito pelo Nélson Rebanda.

Sem comentários:

Enviar um comentário