Quadragésimo quarto dia - Estrela

dia-a-dia: agora já ninguém goza comigo

Raio de frio. Frio frio frio. Frio de manhã, antes de acordar, à tarde, ontem à noite, ainda agora. Aliás, gelo no vidro do carro às nove da noite? É frio. Muito frio.

Ontem apercebi-me que ninguém sobrevive sem gás nem lenha por estas paragens. Na semana passada, que nem puto inteligente, comprei antecipadamente a botija de gás que me manteria vivo durante esta semana. Ontem cheguei achando que a botija me salvaria, mas nada, não encaixava, não encaixava. Talvez a cama, com lençóis novos, térmicos. Nada. Frio.

a asna, que claramente não é a mulher do asno

A meio da manhã, com tudo embalado na obra, fui a Lagoaça comprar pão. O pão é bom. Voltei à obra. Carpintaria a rolar. Excursão a Carviçais para comprar gás. De volta à Macieirinha, liguei a botija de gás. Já tenho gás para o banho. Achei-me mais inteligente do que antes e tentei pela quarta vez o aquecedor a gás. Nada. A válvula não dava. Um pouco esbaforido e totalmente desanimado, deitei um olho ao quarto do Quim, não fosse estar esquecida por lá alguma botija de água. Bingo. Achei-a e achei que tudo era possível, por isso avancei sobre a botija (de gás) para a quinta (sexta?) tentativa. E atinei com a válvula. É essa botija que neste momento me mantém vivo.

Os cachorros já abrem os olhos. Fiz questão que olhassem para mim, para perceberem quem manda. Sou eu. Os homens falavam de uma cena de porrada entre gajas, em Freixo. No borralho, o Amílcar e a Alcina discutiam casas-de-banho, aparentemente uma discussão que já dura há anos. Chegado o Luís, pedi-lhe e ao Amílcar que me acompanhassem ao meu pinhal. Já o sabia, mas difícil foi convencê-los. O monte é tanto que até um homem se assusta. Encontrámos marcos que eu tinha marcado com um spray na tentativa anterior, marcos com paus ao alto, outros tombados. Parte dos marcos são bem difíceis de achar. Prometi-lhes que ia marcar o meu terreno e limpá-lo.

o mais claro é o bilucas

tio Amílcar e tio Luís, monte acima

Ao chegarmos junto das casas, já o Luís ia longe, tentei fazer conversa. E este castanheiro, antigo, não? Este? Com esta largura, mais de cem anos terá. Olhe, vou contar-lhe uma coisa que se calhar não vai acreditar. Vê aquela serra, aquela última? E se eu lhe dissesse que aquela é a Serra da Estrela?

Vá dizendo, tio Amílcar. Vá dizendo que eu acredito em tudo.

a Serra da Estrela é já ali

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